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Livros # Desafios Literários # Aquisições # Opiniões
7ª leitura do desafio "Christmas in the Books 2017"
Categoria 5) Lê um livro perfeito para um dia frio e chuvoso
Opinião:
Autora de um dos melhores thrillers psicológicos que eu alguma vez já li (No Canto Mais Escuro), nunca mais foi editado mais nenhum dos seus livros em Portugal, entretanto já li (em BR) a "Vingança da Maré", mas não me encantou a 100%, mesmo assim resolvi insistir e decidi pegar neste com a esperança de que fosse o livro perfeito para um dia frio e chuvoso, confesso que não foi amor às primeiras páginas, as primeiras 80/90 páginas não me estavam a cativar, depois parece que surgiu um "clik" e logo a leitura fluiu de forma quase obsessiva.
Achei a premissa bastante interessante e a estória que de início parecia não estar a fazer sentido logo se revelou bastante indispensável. Deste o início sabemos quem é o nosso psicopata (acho que este é o nome correcto para identificar o Colin), um homem com uma vida normal, mas com algumas patologias psicológicas bastantes macabras.
Annabel, trabalha como analista de sistemas, funções meramente administrativas nas instalações de uma esquadra de polícia.
A premissa é bastante audaz, vários corpos estão a ser encontrados já em estado de decomposição nas suas casas, não existem indícios de crime, mas a quantidade de corpos descobertos chama a atenção de Annabel, que descobre um padrão, padrão esse que ela bem conhece...
Até onde sabemos quem são os nossos vizinhos, até que ponto os conhecemos, será até que sabemos se estão bem? A solidão é uma voz, que na maior parte das vezes não se ouve e neste mundo cada vez mais tecnológico essa voz vai sendo cada vez mais silenciada.
Gostei do desenvolvimento do livro, vamos sabendo o que levou cada uma destas pessoas a definhar, acompanhamos o papel de Colin e consequentemente como Annabel vai passar pelo mesmo processo, sem que se dê conta de que está a um passo do abismo.
Achei a escrita bastante pormenorizada, de tal forma que a maior parte das vezes nos deixa com aquela sensação de claustrofobia.
Até que ponto um assassino pode ser considerado assassino, quando as mortes ocorrem por espontânea vontade dos seres humanos encontrados mortos?
Será que estas mortes vão permanecer impunes e no esquecimento, tal como as suas vidas foram esquecidas?
Muito bom, para onde está a caminhar a espécie humana, este livro coloca imensas questões para parar e reflectir...
"Você conhece os seus vizinhos?
— Conheço, sim! Já faz alguns anos que moro na mesma casa, e somos bons amigos. Mas no último lugar em que morei, não era nada assim. Vivi lá durante cinco anos e não tinha a menor ideia de quem morava ao lado. E acho isso uma pena…
— Hum, sei. É mesmo, e não parece haver razão alguma para isso. Só precisamos ser cordiais e fazer um esforço para conhecer as pessoas. Não é preciso fazer amigos se não estiver a fim, mas nunca se sabe quando precisaremos uns dos outros, afinal de contas…
— E a população está envelhecendo, não é mesmo? Acho que daqui a alguns anos haverá muito mais idosos morando sozinhos, e ter vizinhos nos quais possam confiar é muito importante..."
"— Embora talvez ninguém desconfiasse de verdade, caso você fosse sumindo aos poucos — disse ela, alguns minutos depois.
— Sumindo de onde?
— Do Facebook. Quer dizer, se você tivesse a intenção de se afastar da sociedade, então, aos poucos, pararia de postar coisas no Facebook, não é? E, algum tempo depois, ninguém notaria sua ausência. Ou talvez notassem, e então poderiam enviar uma mensagem, um e-mail, mas se não recebessem resposta… bem, a maior parte dos nossos contactos não é realmente nosso amigo, não é? Amigos próximos, quero dizer. E aqueles que são, bem, e se você lhes dissesse que estava indo morar no exterior? Ou que seu computador quebrou, ou algo parecido? Quantos meses levaria até alguém se preocupar de verdade com por onde você anda?
— Eu não estou no Facebook — respondi."
"Você nunca se dá conta do que é a solidão até que ela começa a rastejar dentro de você, como uma doença; é algo que vai acontecendo progressivamente com você. E é claro que o álcool não ajuda: você bebe para esquecer como é uma merda viver assim e então, quando para de beber, tudo fica infernalmente pior. Então você continua bebendo para tentar apagar tudo."
"Ninguém olha nos seus olhos. E eu percebi que fazia anos e anos que ninguém havia mantido contacto visual comigo, e a última a fazer isso provavelmente foi Bev. Então, o que significava isso? O que podia significar? Se as pessoas pararem de olhar para você, você para de existir? Isso quer dizer que você não é mais uma pessoa? Isso quer dizer que você já está morto?"
"Aqueles que procuro são os que parecem estar vestindo as roupas com que foram dormir na noite anterior. Aqueles que saem à noite, por não conseguirem suportar as multidões. Não fazem compra durante o dia, pois acham que o som de crianças berrando pode perfurar seus tímpanos e lhes dar vontade de chorar também. Saem para as compras à noite, quando está calmo, escuro e ninguém os irá encarar, ninguém irá reparar neles, ninguém dirigirá um segundo olhar para eles. Percorrem o supermercado como se fossem invisíveis, porque é assim que se sentem. Em seus carrinhos haverá comida congelada, basicamente, pois só fazem compras uma vez por mês, se tanto. Levam uma lista na mão, por não quererem voltar, no caso de esquecerem de alguma coisa. Não estabelecerão contacto visual. Não falarão com ninguém."
Esta foi a última opinião de 2017, a minha 64ª leitura, acho que posso afirmar que finalizei o ano em beleza...
Para o ano há mais... Beijokas...
Elizabeth Haynes é analista dos serviços secretos da polícia britânica. No Canto mais Escuro, que marca a sua brilhante estreia na ficção, foi traduzido em 27 línguas e editado em países como o Brasil, China, Japão, Alemanha ou Estados Unidos, e deixa antever uma promissora carreira literária. Haynes vive em Kent com o marido e o filho.