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"Habibi" de Craig Thompson - Opinião (25/2018)

por Tânia Tanocas, em 12.05.18

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Opinião:

Uma mistura de Alcorão, Bíblia e Mil e Uma Noites...

 

No início do livro Dodola é uma menina que tinha tudo para não vingar na vida, a menina perdida entretanto transforma-se numa mulher cheia de perseverança, numa sociedade extremamente fechada que só o facto de ser mulher já é meio caminho para não ser ninguém...

 

Zam surge quase do nada e rapidamente se apega a Dodola, também ele se transforma num homem, também ele vai sofrer bastante até alcançar o seu objectivo...

 

Em determinado momento cada um traça a seu destino separadamente, ambos fazem escolhas, ambos perdem e ganham, mas quando parece que os seus destinos estão irremediavelmente perdidos eis que surge a esperança.

 

Em termos visuais este livro é uma autêntica obra prima, desenhos e traços lindos que só por si poderiam contar toda esta estória.
Adorei conhecer a Dodola e o Zam, a estória destas duas personagens é de partir o coração, mas a racionalidade fez com que a estória fosse merecedora de mais do que 5 .

 

Habibi é uma palavra árabe que significa "amado" ou "querido", uma palavra que expressa bem o sentimento que este livro despertou em mim.

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publicado às 18:00

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Opinião:

Vou sentir saudades desta família, de todos eles sem excepção, até mesmo do Rex.
São leituras assim que me recordam porque gosto de pegar num livro e ler!
Umas vezes sou levada para sítios, situações e personagens completamente desconhecidas que desejaria viver e conhecer, outras vezes deparo-me com situações e personagens que me relembram o que quero esquecer...
Jannette Walls, obrigado pelo testemunho e coragem, conseguir superar não é fácil, mas admitir e contar, também não...

 

Ainda existem muitos "castelos de vidro" que podem facilmente desabar, ou até, nunca conhecer o brilho do sol...

Adorei a forma despromovida de ódio, ou rancor com que a autora descreve o seu passado e o relacionamento com a sua família, é a prova de que o passado por mais duro que seja, o amor da família é a fonte de tudo.

 

Felizmente, a minha vida foi sempre pautada de muito amor, carinho e nunca nada me faltou, mas por vezes existem questões que nos marcam e que se vão desmoronando com o passar dos anos.
Houve momentos em que me revi no relato da Jannette, os problemas do pai com o álcool, a forma como ele (não) gere as finanças, os problemas de acumulação, a incompatibilidade da realização dos seus sonhos e até a vergonha de enfrentar a dura realidade da sua própria família.
Senti, impávida e serena a dura batalha de amor - ódio que se vai desenrolando página a página, a angústia sentida em cada palavra e frase.

 

É fácil imputar negligência, mas é demasiado complicado condenar os pais, quando eles querem fazer uma vida fora dos padrões "normais", apesar de todas as vicissitudes nenhum deles abandonou quem lhes trouxe ao mundo, simplesmente cada um fez a sua escolha...

 

"Toda a gente tem qualquer coisa de bom. Temos é de encontrar essa qualidade e amá-la por isso.
- Ai sim? E qual era a qualidade de Hitler? - perguntei.
- Gostava de cães - respondeu a minha mãe sem hesitar."

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publicado às 17:30

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Opinião:

"Dores" de Maria Teresa Horta - 5 🌟

Dar um sentido à vida
Ouvir os silêncios e gritos da nossa alma
Responder com coragem, resiliência, sem medos
Esperar que algo ou alguém quebre estes desamores
Serão sempre estas, algumas, das nossas DORES...

 

Que conto poderoso, confesso que não conhecia a escrita da autora e jamais diria que um "simples" conto poderia abalar os meus sentimentos. 
Houve momentos que me senti uma "Judite", a sensação de abandono, incompreensão e a sua força em resistir a tudo o que lhe acontece elevou-me para um lugar completamente claustrofóbico.

 

"Quantas vezes disse a mim mesma que fugir é sempre perder-me? A misturar permanentemente o amor com a desconfiança, a viver o amor à espera do sofrimento...."

 

"Chave de Entendimento para uma Sinfonia Perdida" de Patrícia Reis - 4,5 🌟

Um grande amor, será sempre um grande amor, mesmo que isso envolva um sem números de incompreensões.
Como contornar estes sentimentos, muitas das vezes completamente contraditórios?!

 

É isso que a autora nos transmite, iniciamos uma Sinfonia que poderá, ou não, ser a "Chave de Entendimento para uma Sinfonia Perdida"...

 

"O tempo demora o quanto precisa, a não ser que seja Natal, um tempo que nos obrigamos a viver dentro do fardo das tradições como uma cilada prevista, mas inevitável, tentadora, cilada repleta de malvadez."

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publicado às 09:00

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Opinião: 

Tinha este livro para ler à alguns anos, apaixonei-me por Philippe Claudel, ao ler "Almas Cinzentas", "A Neta do Senhor Linh" e "Desiso", a partir daí tudo o que se editou do autor eu adquiria sem querer saber sequer do que se tratava e por incrível que pareça só à pouco tempo descobri que este livro tinha a II Guerra Mundial como um dos panos de fundo.

 

Mas não foi por isso que peguei nele, depois de ter lido "A Morte de Ivan" confesso que fiquei melancólica e desejei ler algo que eu tivesse a certeza que iria adorar. Logo nas primeiras páginas tive a certeza de que tinha feito a escolha certa.

 

"Chamo-me Brodeck e não tive culpa de nada. 

O meu nome é Brodeck. 

Brodeck. 

Por favor, lembrem-se. 

Brodeck."

 

É complicado escrever sobre este livro, acho que nada conseguirá fazer justiça ao seu conteúdo. Só lendo "O Relatório de Brodeck" teremos realmente a noção de que este é mais um livro (injustamente) perdido, sem lhe darem o devido valor. 

 

Numa aldeia (que nunca sabemos o nome), temos a noção de que a guerra terminou há pouco mais de um ano, uma aldeia que fora bastante fustigada, assim como tantas outras, o que distingue essa aldeia de outras é que nenhum desconhecido havia aparecido nos últimos tempos, por isso quando um dia surge um forasteiro com os seus modos e hábitos esquisitos, toda a população fica em alerta. 

 

Desconhecemos o nome deste forasteiro e quais as suas verdadeiras intenções em se instalar na povoação, o que é certo é que este homem vê a sua vida em risco, quando expõe alguns dos seus desenhos, caricaturas que elaborou dos habitantes, só com a ajuda do seu hábito de observação, desenhos que não são bem aceites pelos retratados. 

 

Brodeck, o escrivão da aldeia, é um homem que (infelizmente) vê o destino desafiar a sua vida várias vezes, numa dessas vezes por causa de um simples naco de manteiga, parece surreal, mas por vezes, é nas pequenas coisas que a vida nos dá enormes lições. Será ele que vai deslindar a história da aldeia e dos seus místicos habitantes ao elaborar um relatório a pedido dos homens mais influentes da população. 

 

Mas Brodeck que desde o início afirma que nada tem a ver com o caso, decide não só elaborar um relatório, mas dois, um com a versão que todos querem ler e outro com a verdade que mantém escondido, o leitor vai ficando a par dos dois relatórios ao mesmo tempo, uma viagem não só por entre os habitantes da aldeia, mas também pelos meandros da sua própria vida. 

 

Brodeck, certamente ficará na minha memória, não porque ele implora, muito menos por piedade, mas porque realmente ele merece jamais ser esquecido. 

 

"Internaram-me longe, num lugar do qual se ausentara toda a humanidade e onde só restavam animais sem consciência de que haviam adquirido a aparência dos homens." 

 

"As pessoas falam muito e muitas vezes para não dizerem nada."

 

"A raposa é um animal curioso, sabes. Chamam-lhe matreira, mas na realidade é bem mais do que isso. Os homens sempre a detestaram, sem dúvida por se lhes assemelhar. Caça para se alimentar, mas também é capaz de matar unicamente por prazer."

 

"Habituamo-nos a tudo. Há pior do que o cheiro a merda. Há muitas coisas que não cheiram a nada, mas que apodrecem os sentidos, o coração e a alma sem dúvida mais do que todos os excrementos."

 

"Sei como o medo pode transformar um homem. 

Não o sabia, mas aprendi. No campo de concentração. Vi homens aos gritos, a bater com a cabeça contra as paredes de pedra, a lançarem-se sobre arames cortantes como lâminas. Vi-os defecar nas calças, até se esvaziarem completamente, vomitar, expulsar tudo o que continham de líquido, de humores, de gases. Vi alguns rezar e outros renegar o nome da Deus, cobri-lo de sânies e injúrias. Assisti mesmo à morte de homens. Morreu de medo, depois de ser escolhido ao acaso pelos guardas como o próximo a ser enforcado. E quando o guarda parou à sua frente e lhe disse, rindo: «Du», o homem permaneceu imóvel. O seu rosto não deixou transparecer nenhuma emoção, nenhuma perturbação, nenhum pensamento. No momento em que o guarda começou a erguer o bastão, o homem caiu redondo no chão, antes que o outro lhe tocasse. 

O campo de concentração ensinou-me este paradoxo: o homem é grande, mas nunca estamos à altura de nós mesmos. Esta impossibilidade é inerente à nossa natureza."

 

Passou a ser o livro mais sublinhado dos últimos tempos, decididamente será motivo mais do que suficiente para ser um favorito e um dia fazer uma releitura. 

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publicado às 18:30

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Opinião:

Um livro de não ficção, que mais parece uma ficção de tão inusitado que é.

 

Passava 58 segundos da 1h23 da madrugada do dia 26 de Abril de 1986, iniciava-se a maior catástrofe nuclear da história, o maior desastre tecnológico do século XX, cujos efeitos ainda hoje são sentidos. O reactor n° 4 da central nuclear de Chernobyl era destruído após uma série de explosões, deixando um rasto (invisível) de destruição.

 

"No nosso solo já se encontravam dezenas de toneladas de césio, iodo, chumbo, zircónio, boro, uma quantidade desconhecida de plutónio (os reactores RBMK a urânio e grafite, de modelo usado em Chernobyl, produziam plutónio militar com que se fabricava as bombas atómicas) - no total uns quatrocentos e cinquenta tipos de radionuclídeos. A quantidade equivalia a trezentas e cinquenta bombas largadas sobre Hiroxima." Vassíli Nesterenko, antigo director do instituto de Energia Nuclear da Academia de Ciências da Bielorrússia

 

O comunismo russo ou ditadura socialista, queriam forçosamente ser pioneiros neste tipo de energia, eram tão sedentos de egocentrismo que descuidaram a precariedade do seu funcionamento e dos graves problemas de segurança da central nuclear, não esquecendo também o erro humano, que foi o maior dos culpados nesta tragédia, quer antes, durante e até depois.

 

"Os Japoneses demoraram doze anos até iniciar a operação deste tipo de infraestruturas, nós fazíamos o mesmo em dois ou três anos. A qualidade e a segurança de um obra especial eram iguais à de uma exploração pecuária. Às de um aviário! Quando faltava alguma coisa, descartava-se o projecto e fazia-se a substituição com o que estivesse à mão. Assim, o telhado da sala das máquinas foi coberto com betume. Foi esse betume que os bombeiros tiveram de apagar. Quem é que dirigia essa central nuclear? Na direcção não havia um único físico nuclear. Havia engenheiros electrotécnicos, engenheiros de turbinas, funcionários políticos, mas não havia um único especialista. Nem um único físico..."

 

Foi tão egoísta o heroísmo soviético que não soube proteger a sua população, lançado-a para uma emboscada em nome de sabe-se lá do quê e com a agravante de lançarem o engodo do dinheiro, o que há a temer do que não se vê ou sente, quando a recompensa é mais do que suficiente para alimentar a família durante meses...
Na era soviética, comunismo ou ditadura socialista, o lema das populações é dizerem "nós" e não "eu", só assim conseguimos, tentar, compreender as motivação que levaram as pessoas a alistar-se, voluntariar e acatar as ordens de trabalhos em zonas afectadas, sem qualquer tipo de protecção ou preocupação, cujos efeitos só surgiriam mais tarde.

 

"Está um tractor a lavrar. Pergunto ao funcionário do comité distrital do Partido que nos acompanha:
«O condutor está protegido pelo menos com máscara respiratória?»
«Não, trabalham sem máscaras.»
«Porquê, não as receberam?»
«Qual quê! Recebemos tantas, que vão durar até ao próximo século. Mas não as distribuímos. Para não criar pânico. Senão fogem todos! Vão-se embora daqui!»
«Mas que asneira andam vocês a fazer?»
«Para si é fácil falar, professor! Se for despedido, há-de encontrar outro trabalho. E eu, para onde vou?»
Mas que poder! O poder desmedido de um ser humano sobre outro ser humano. Isso já não é enganar, é travar uma guerra contra inocentes..." Vassíli Nesterenko, antigo director do instituto de Energia Nuclear da Academia de Ciências da Bielorrússia

 

O que fez a "amada" União Soviética, ou não, para proteger as suas populações, o ambiente, fauna e flora envolvente, os países (Escandinávia, Europa Central, Reino Unido, Grécia, etc) que foram atingidos pela nuvem reactora?!
Não são estas respostas que a autora Svetlana Alexievich quer ver respondidas, sobre o acontecimento em si já muito se escreveu, o objectivo deste livro é recolher o quotidiano dos sentimentos, dos pensamentos, das palavras, a vida de um dia comum das pessoas comuns.

 

A autora levou 20 ano a concluir esta obra, encontrou-se e falou com antigos trabalhadores da central nuclear, liquidadores, cientistas, médicos, soldados, cidadãos que residem ilegalmente na zona proibida de Chernobyl, crianças, pessoas comuns com tanto ainda por desabafar, tentou encontrar algum fundo de verdade, consolo e alguma compreensão nos relatos dos muitos anónimos (na altura) que desde o primeiro momento estiveram no teatro das operações e que desde essa data tiveram as suas vidas marcadas, não apenas por uma efeméride, mas por toda a sua existência.

 

Sem dúvida que este livro é um marco na nossa história, desde o prefácio de Paulo Moura (repórter), passando pela introdução histórica, o cunho pessoal da autora ao fazer um capítulo em que se auto denomina de "Uma Solidária Voz Humana" e depois culminando nos relatos impressionantes dos protagonistas.

 

Na era soviética, comunismo ou ditadura socialista, o lema das populações é dizerem "nós" e não "eu", só assim conseguimos, tentar, compreender as motivação que levaram as pessoas a alistar-se, voluntariar e acatar as ordens de trabalhos em zonas afectadas, sem qualquer tipo de protecção ou preocupação, cujos efeitos só surgiriam mais tarde.

 

Heróis ou Suicidas?!... É somente esta pergunta que predomina no leitor depois de terminar a leitura, fiquei com muitas questões, mas sem dúvida que esta questão vai durar para sempre na minha memória.

 

"Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazis destruíram 619 aldeias bielorrussas, juntamente com os seus habitantes. Em resultado de Chernobyl, o país perdeu 485 aldeias e povoações. Destes, 70 foram permanentemente soterrados. Durante a guerra, 1 em cada 4 bielorrussos foi morto; hoje em dia, 1 em cada 5 bielorrussos vive em terrenos contaminados. São 2,1 milhões de pessoas, das quais 700 000 são crianças."

 

"Uma ucraniana vende no mercado grandes maçãs vermelhas: «Quem quer maçãs? Maçãs de Chernobyl?» Alguém aconselha: «Ó mulher, não digas que são de Chernobyl, que ninguém tas compra.» «Não se preocupe! Então não compram! Há quem compre para a sogra, há quem compre para o chefe.»"

 

"Esta é a minha história... Contei-a... Porque comecei a fotografar?
Porque não tinha palavras que chegasse..." Víktor Latún, fotógrafo

 

"Percebi que só o tempo vivo tem um sentido... O nosso tempo vivo..." Valentin Borissévitch, antigo chefe do laboratório do instituto de Energia Nuclear da Academia de Ciências da Bielorrússia

 

"A arte é uma recordação. A recordação de que temos existido. Temo... Só temo que o medo na nossa vida substitua o amor..." Lília Kuzmenkova, professora e realizadora

 

NOTA: Tinha dado a esta leitura uma pontuação de 4 🌟, depois de fazer esta minha opinião, não me consegui conformar, por isso alterei a classificação para 5🌟. A autora, os protagonistas, os que sofreram, sofrem e ainda vão sofrer da consequência deste desastre nuclear merecem toda a minha (nossa) consideração e que todo o infortúnio de Chernobyl seja uma chamada de atenção para todos nós. 

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publicado às 22:00

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Opinião:

Infelizmente não é um livro fácil de encontrar...  Foi lido em ebook brasileiro. 

 

Este livro está envolto em bastantes polémicas, primeiro pensou-se que seria um relato pessoal do autor (apesar de ele nunca o ter confirmado) e todo o mundo se rendeu ao livro, inclusive o Elie Wiesel, depois descortinaram que o passado do autor em nada se assemelhava ao livro (mas não existem livros de não ficção, tem tudo de ser baseado na realidade), por fim com tantos altos e baixos na sua carreira o autor não aguentou a pressão (ou perseguição) e suicidou-se.

 

Apesar de ser um livro envolvido em certas polémicas, eu adorei esta visão da II Guerra Mundial. Se é inspirado em factos reais ou não, o autor nunca disse que era, talvez nunca saberemos, mas será que isso é tão importante na literatura? Verdade ou mentira eis a questão...
Mas independentemente dos factos referidos, certamente que terá sido uma realidade para muitas pessoas, de uma forma ou de outra, isso não tenho dúvidas nenhumas.

 

A premissa de O Pássaro Pintado (actualmente) não é nenhuma novidade, mas na altura em que foi editado (1965), foi considerado e aconselhado por muitos anos como um dos melhores retratos da II Guerra Mundial.

 

Uma criança de 7 anos é entregue pelos seus pais para (tentar) escapar à guerra, a mulher que inicialmente o acolhe morre acidentalmente e assim começa o percurso desta criança. Não sabemos o seu nome, não sabemos ao certo onde se situa a acção, simplesmente vamos acompanhando as dificuldades desta criança em criar laços com as populações nos vários sítios por onde vai passando.
Vão existir almas caridosas que sentem (alguma) compaixão para com esta criança, mas a maioria da sua jornada vai ser pautada por muita dor (física e psicológica), dificuldades e a angústia de lidar com o facto de ser somente uma criança.

 

Não é uma jornada fácil, eu tentei entender os dois lados, todos eles tentam, de uma forma ou de outra, sobreviver às atrocidades de uma guerra que não poupa ninguém. Acolher e esconder alguém naquele tempo, significava mais dois braços de trabalho e mais um pedaço de pão, mas ao mesmo tempo, podia ser uma bomba relógio que afectaria toda a comunidade.
Mas em muitos momentos temos a certeza de que esta criança não é bem recebida, porque tem uma pele mais escura, ou é até mesmo considerada um cigano, por isso, ficamos indignados com os mal tratados infringidos e não percebemos como é que uma criança inocente de 7 anos pode ser tão hostilizada e incompreendida, só pela cor ou aparência.

 

A meu ver, este livro teve um enorme impacto em mim, não só pela história da criança, mas porque foi o primeiro relato que li da II guerra mundial, que me mostrou o impacto da guerra na vida das populações civis e dos soldados, que de certo modo também sofreram bastante durante este período, muitas das vezes, divididos entre sobreviver ou (des)obedecer. O autor também destacou e enalteceu o Exército Vermelho, mas com bastantes farpas apontadas para o regime Russo.

 

Só os mais fortes conseguem ultrapassar as piores barreiras e isso também se aplica a nós leitores.

 

"Quanto a mim, sentia-me como aquele cão sarnento encontrado pelos guerrilheiros. Começaram por acariciar-lhe a cabeça e coçar-lhe as orelhas. O animal, felicíssimo, gania de felicidade e de gratidão. Depois atiraram um osso numa campina cheia de flores e de borboletas. O cão correu agitando a sua pobre cauda. No momento em que abocanhava todo orgulhoso o seu osso, os guerrilheiros abateram-no com um tiro de fuzil."

 

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publicado às 18:00

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Opinião:

"Tudo na vida tem

Um começo

Um meio 

E um foda-se" 

 

Esta foi a minha 10° leitura de 2018 e é o primeiro a receber 5 🌟. 

Segundo livro lido do autor Raphael Montes, "Vilarejo" foi o primeiro e já tinha despertado a minha atenção para a sua escrita e estórias fantásticas, mas este "Jantar Secreto" foi mesmo um autêntico repasto.

O autor não está traduzido em Portugal, por isso foi lido em ebook brasileiro.

Atenção, não tentem fazer esta leitura depois das refeições... 

 

Dante (o narrador), Miguel, Victor Hugo e Leitão são quatro amigos que vivem em Pingo d’água, uma cidade do Paraná, famosa pelo turismo religioso. Em 2010, cheio de sonhos e recém aprovados para uma faculdade do Rio de Janeiro, os amigos embarcam na oportunidade de mudar de ambiente e dividem o mesmo apartamento em Copacabana, dando assim início a uma aventura na cidade maravilhosa...

 

Fim de 2014, a alegria da mudança de vida para a cidade grande, já há muito se tinha transformado num autêntico pesadelo, o que nenhum deles fazia ideia era que iria piorar ainda mais. 

 

Miguel fazia uma pós graduação num hospital público, bastante distante do Rio de Janeiro, Hugo terminou a faculdade de gastronomia em 2013, apesar do seu talento vivia saltando de restaurante em restaurante, ganhando uma miséria como assistente de cozinha, Dante concluiu a sua formação em administração, mas deparou-se com a "crise" no mercado de trabalho, Leitão não se formou em nada, vivia fechado no seu quarto, engordando diariamente, mas é  um "expert" em informática. 

 

"Um sujeito estava andando pela rua quando deparou com um restaurante que vendia carne de gaivota. Pediu a carne, comeu, foi para casa e se matou. Por quê?”

 

É esta charada que vai despertar a solução dos seus problemas, uma ideia exclusivamente para resolver um problema que surge da consequência de um presente de aniversário ao Leitão, o objectivo é ser elaborado uma única vez, mas a ideia é tão inovadora, lucrativa e com um sucesso tão grande que se tornou num negócio sem precedentes. Porém, tudo pode ser mais perverso e perigoso do que o jogo de servir jantares secretos! 

Será que estes quatro amigos têm estômago para levar em frente um negócio tão macabro, como o de servir carne de gaivota (carne humana)?...

 

Sem dúvida que é uma leitura chocante, mas ao mesmo tempo (a meu ver) uma chamada de atenção para uma reeducação alimentar, uma farpa para a corrupção brasileira, o fosso egocêntrico entre ricos e pobres, o alerta para o sedentarismo e até uma (quem sabe) resolução / alternativa para diminuir a fome no Mundo...

Tudo Ingredientes perfeitos para ter um excelente "Jantar Secreto", ou quem sabe, uma dolorosa indigestão. 

 

Uma estória ficcional, que tem tudo para eventualmente (num futuro (talvez) não muito distante) se tornar uma realidade. Choca o conteúdo, mas será que a finalidade é assim tão descabida? Dinheiro, status e sucesso, hoje em dia é tudo o que conta para definir o que é, ou não possível...

Antropofagia, não é nenhuma ficção, aquilo que em tempo exigia algum tipo de ritual, ou até sobrevivência, poderá um dia ser uma realidade tão natural como ir ao talho e escolher um suculento naco de carne daquela vaquinha, ou porquinho que se sacrifica para alimentar a espécie humana... 

Não, não sou uma pessoa alarmista ou pessimista, mas sim uma pessoa consciente e realista... 

 

"Não entendo nada dessas coisas. Pra mim, Bíblia é feito catálogo da Avon: só abro pra fazer pedido." 

 

"As pessoas vinculam loucura a maldade e racionalidade a bondade. Segundo estatísticas, doze por cento das pessoas ditas normais são criminosas, assassinas ou perigosas. Enquanto isso, só três por cento das pessoas ditas loucas têm potencial ofensivo considerável. Isso significa que normais matam muito mais do que loucos. Se no mundo houvesse mais loucos, haveria menos violência."

 

"Nós nos abraçamos, sem dizer nada. Ainda que eu me sentisse mal pelo jantar, naquele momento pensei que, na escala de crueldades, tinha gente muito pior no mundo. Gente que desviava verba de hospital público, que traficava órgãos, que fazia vídeos de sexo com criancinhas. A perversão não tem limites. O ser humano é um bicho escroto por natureza. Não importa o que digam, todo mundo é assim. Rico ou pobre, negro ou branco, velho ou novo, não interessa. Somos todos iguais em escrotidão."

 

“Não precisa se condenar, garoto. Essa é a mesma ignorância que faz com que você não mate um bicho, mas coma a carne dele disponível no mercado. A gente vive com uma dieta inconsistente, suavizada pelo sabor. Temos pena do porquinho e da vaquinha, mas adoramos um bom bife. Meu pai já dizia que a beleza sempre ocorre no particular, enquanto a crueldade prefere a abstração."

 

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publicado às 21:00

"A Quinta dos Animais" de George Orwell - Opinião

por Tânia Tanocas, em 27.12.17

6ª leitura do desafio "Christmas in the Books 2017"

Categoria 8) Lê um livro que contenham algum elemento de fantasia

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Opinião:

Um livro que apesar de o querer muito ler, adiei durante bastante tempo, em parte porque tinha receio de ter uma escrita difícil (concluído em 1943) e depois porque as opiniões eram quase sempre dirigidas a questões políticas, mas nada dos meus receios se justificaram, este é mesmo daqueles livros em que só me arrependo de não o ter lido mais cedo.

 

Esta é uma fábula (será que a poderei considerar fábula?), pois para mim é uma fábula, com a particularidade de que a realidade se rivaliza com a fantasia, ou será ao contrário?
Uma forma criativa de criticar os actos dos humanos, transformando a rebelião de um grupo de animais em exemplos de certas atitudes e rumos a tomar.

 

Compreender como se forma uma ditadura, compreender como surge a inércia de um povo, compreender aquilo que ninguém compreende quando se tem liberdade para pensar livremente.
Quem ficará mal? Quem ganhará a luta? Sem dúvida que este livro é uma fábula que podemos tirar várias ilações, não só em termos políticos já passados, como no presente e futuro...

 

Quando perguntam como é que um povo não se revolta e aceitam impávidos e serenos as atitudes dos seus governantes, certamente vou aconselhar que lêem este livro, porque é sem dúvida um óptimo exemplo de explicação, sem rodeios onde qualquer pessoa irá certamente compreender como é que se formam as lavagens cerebrais, a subjugação dos ideias que só beneficia quem os dita, o que acontece quando a droga mais mortífera continua a ser o Poder...

 

Os Sete Mandamentos da filosofia do Animalismo:

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro patas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

 

Entretanto os mandamentos vão alterando em proveito de quem está no Poder:

4. Nenhum animal dormirá em cama com lençóis.
5. Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6. Nenhum animal matará outro animal sem motivo.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

Em resumo: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros..."

 

Para finalizar, aproveito para salientar que adorei esta edição da Antigona, além de ter o texto na íntegra, tem uma reflexão inicial acerca da fábula e vários apêndices do autor onde explica a origem e as dificuldades em publicar este livro. 

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George Orwell (1903-1950) é autor de importantes obras de ficção e de não ficção. Em 1945, publicou O Triunfo dos Porcos / A Quinta dos Animais, até hoje a sua obra mais popular a par com 1984, uma sátira pessimista sobre a ameaça de uma tirania totalitária no futuro, publicada em 1949.
Serviu na Polícia Imperial na Birmânia (agora Myanmar) e mais tarde lutou do lado dos Republicanos na Guerra Civil Espanhola. Pertenceu à Home Guard, uma importante organização de defesa do exército britânico, e trabalhou como correspondente de guerra para a BBC durante a Segunda Guerra Mundial.
George Orwell morreu em 1950, em Inglaterra, vítima de tuberculose. Escreveu também, entre outras obras, Dias da Birmânia (1934), O Caminho para Wigan Pier (1937) e Homenagem à Catalunha (1938).

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publicado às 23:00

3ª leitura do desafio "Christmas in the Books 2017"

Categoria 6) Lê um livro que fale de uma viagem

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Opinião:

Quando está na moda travar a imigração por parte dos EUA (quer seja com a construção de mais um muro, quer seja com decretos racistas), porque não compreender melhor as razões e as dificuldades de quem faz uma viagem de alto risco para ter uma vida mais digna (ou talvez não!), assim surgiu o meu interesse em ler esta viagem.

 

Não é uma viagem de lazer, é sim uma corrida desenfreada contra o tempo e quem for mais perspicaz talvez ganhe o acesso a um mundo diferente, mas muitas das vezes não necessariamente um mundo melhor. Editado em 2006, mas que em 2017 me parece tão actual...

 

O relato deste livro abrangeu cinco anos. Durante esse tempo a jornalista norte-americana Sonia Nazario, passou seis meses nas Honduras, Guatemala, México e Carolina do Norte. A viagem efectuada entre 2000 e 2003 foi realizada por causa de uma coluna para o jornal Los Angeles Time. Em consequência dessas viagens e entrevistas a coluna deu origem a este livro.

 

Lourdes, abandonada pelo marido e com dois filhos para criar, mora nos arredores de Tegucigalpa, nas Honduras. Ela mal tem dinheiro para alimentar Enrique, com cinco anos e a irmã, Belky, com sete . Nunca pôde comprar-lhes nenhum presente nem nenhum bolo de aniversário. Com 24 anos, Lourdes lava a roupa dos outros num rio lamacento. Anda de porta em porta a vender tortilhas, roupa usada e banana-pão.
No dia 29 de Janeiro de 1989, Lourdes parte para os EUA, em busca de uma vida melhor, deixando para trás os seus "bens" mais precisos.

 

A partir daqui acompanharmos o desenvolvimento desta família, da perspectiva dos vários elementos, mas é em Enrique que se foca a autora e qual foi o  trajecto da sua vida até ao momento em que coloca na sua cabeça a insistência de ir ao encontro da mãe.
Na sua maioria, as crianças que empreendem esta viagem não a terminam. Acabam por voltar novamente para a América Central, vencidas.
O Enrique estava decidido a ficar novamente com a mãe. Será que conseguiu?

 

As migrantes latinas acabam por pagar caro a ida para os Estados Unidos. Perdem o amor dos filhos. Quando se reúnem, o ambiente acaba por ser conflituoso. É frequente os rapazes procurarem os bandos, numa tentativa de obterem o amor que julgavam poder ter da mãe. E é frequente as raparigas engravidarem e constituírem família. Sob muitos aspectos, estas separações são devastadoras para as famílias hispânicas.

 

Já para não falar dos perigos que consiste em fazer esta viagem, todos querem ganhar algum proveito, mas também há quem, com o pouco que tem, dê algum conforto a estes passageiros.
Não é uma viagem fácil de se ler, mérito da autora que conseguiu pôr o dedo na ferida e abrir as nossas consciências.

 

Para finalizar, uma das críticas que li ao livro, foi a forma como este está escrito, eu pessoalmente gostei, a autora é jornalista e como já expliquei, a ideia do livro surgiu no seguimento de reportagens realizadas para um jornal, por isso a maneira pormenorizada dos factos descritos realça ainda mais o impacto da vida destas pessoas. Além de seguir a viagem pessoal de Enrique, Sonia não quis deixar de relatar os vários perigos e ajudas que vão surgindo, dar-nos a conhecer o impacto das economias e políticas, deixando bem claro que os homens e mulheres da América Central vivem em condições completamente sub humanas sem outras alternativas, senão a migração, a maior parte ilegal...

 

"No fundo, os políticos trancaram a porta da frente, mas escancaram a das traseira."

 

"Desde que começou a construção do muro, tanto triplicou o número de agentes a patrulhar a fronteira como o dinheiro gasto na aplicação da lei. O número de imigrantes ilegais no Estados Unidos aumentou mais rapidamente desde que começou a construção do muro. "

 

"Os imigrantes, sobretudo os mexicanos, tinham por hábito regressar após uma breve temporada de trabalho nos Estados Unidos. Agora, a maior dificuldade na travessia e o aumento dos custos implicam estadias mais prolongadas."

 

A parte que mais me emocionou foi o relato "Ofertas e Fé", nos estados de Oaxaca e Veracruz os habitantes (também eles, a viverem com bastantes dificuldades) têm por hábito oferecer comida e bebida aos passageiros do "comboio da morte". Já tinha visto um documentário acerca deste acto de benevolência, chamava-se "Llévate mis amores", deixo o trailer do documentário para vos elucidar sobre este acto que faz uma enorme diferença a quem não come, nem bebe nada durante dias.

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Sonia Nazario (nasceu a 8 de Setembro de 1960 em Madison, Wisconsin ) é uma jornalista americana conhecida principalmente pelo seu trabalho em Los Angeles Times. Escreveu sobre questões sociais por mais de duas décadas.

Ganhou o Prémio Pulitzer de 2003 com este livro. 

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publicado às 20:00

2ª leitura do desafio "Christmas in the Books 2017" 

Categoria 7)  Lê um livro em que as crianças sejam o ponto principal da história

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Opinião:

Já tinha referenciado aqui o quanto admiro o trabalho destas famílias de acolhimento em particular a Cathy que transpõe para o papel a sua vivência pessoal e profissional, não deve de ser fácil ver a rotina familiar ser "importunada" com a vinda destas crianças, carentes de tudo e mais alguma coisa e até da falta de disciplina.

 

Cathy recebe inesperadamente a proposta de acolher Donna de 10 anos que já se encontrava numa outra família de acolhimento com dois irmãos mais novos, os filhos de Cathy na altura estavam com 6 ano (Paula) e 10 anos (Adrian), concordando em acolher a menina, só aos poucos se vai apercebendo do desafio que tem entre mão, mas o primeiro contacto é arrebatador, Donna é uma criança demasiado alta para a sua idade e bem constituída. E era sem dúvida a criança de aspecto mais triste que Cathy alguma vez vira, de acolhimento ou não.

 

Já li alguns livros desta temática, escritos por pessoa que acolhem crianças em risco, mas este tocou-me bastante, a maneira como esta criança é negligenciada por parte da família chega a ser doentio, a determinada altura a autora diz que tem pena da mãe da Donna, eu só pensava em apertar-lhe o pescoço...
Esta é uma história muito mais psicológica do que física, concluindo que a violência psicológica pode fazer tanto ou mais mal do que a física, apesar de ambas serem condenáveis.

 

O facto dos dois filhos de Cathy serem também eles ainda crianças e agirem nas situações mais difíceis como crianças, origina-se aqui uma enorme lição para os adultos, estas crianças vão à sua maneira ensinar a perdoar, amar e apoiar uma outra criança que é constantemente sobressaltada pelos seu medos, anseios e a única coisa que ela quer é ser amada.

 

Adorei o epílogo e mais não posso dizer...

 

Uma história de vida muito emocionante, que ao mesmo tempo arrepia, também nos vai transmitindo uma onda de esperança. Para quem gosta de histórias do género vai adorar. Decididamente um livro em que as crianças são o ponto principal.

 

"Obrigado, obrigado por me darem um aniversário. Nunca tinha tido um aniversário."

 

"Quero que vocês todos gostem de mim. Por favor, não deixem de gostar de mim, Cathy. Eu preciso que gostem de mim."

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Cathy Glass é o pseudónimo literário de uma mãe de acolhimento de nacionalidade britânica. A sua experiência de cerca de 25 anos, durante os quais trabalhou com uma centena de crianças em situações problemáticas, é a sua fonte de inspiração para escrever livros comoventes que invariavelmente conquistam o público.

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publicado às 14:30


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