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Opinião:

Se no primeiro livro, "Canção de Embalar de Auschwitz", Mário Escobar utiliza uma escrita dura e crua, neste segundo livro apresenta-se com uma escrita poética e emocionante, com muitas frases e passagens que nos faz reflectir sobre o que realmente importa ao ser humano, sobre o que somos e o que queremos verdadeiramente para o nosso presente e futuro. 

 

Lembrei-me várias vezes do livro de Joseph Joffo,"Um Saco de Berlindes", porque também aqui vamos enveredar pela viagem e sobrevivência de dois irmãos (Jacob e Moisés) que procuram insistentemente voltar a reunir-se com os progenitores.

 

A acção passa-me na França, um país livre e que ninguém acreditava que fosse ocupado pelo regime nazi, inicialmente o autor faz referência ao Velódrome d'Hiver, que já referi aquando da leitura do livro "Chamava-se Sara" de Tatiana de Rosnay, onde várias judeus foram amontoados enquanto esperavam ser deportados para campos de trabalho.

 

Jacob assume o papel perfeito de irmão mais velho, uma posição ingrata já que também ele deveria estar a desfrutar da sua infância. 

 

Encontramos situações divertidas, de pânico, mas acima de tudo deparamos-nos com pessoas de coração grande, que irão fazer com que a nossa crença e esperança no ser humano não seja toda generalizada de que são só maus a prosperar neste mundo louco. 

 

Uma parte verídica e desconhecida para mim foi conhecer a aldeia e os habitantes de Le Chambon-sur-Lignon, uma aldeia afastada de França, uma montanha secreta, que se uniu contra tudo e todos para acolher judeus, um dos últimos lugares da Europa onde as pessoas continuavam a ser simplesmente pessoas e os seres humanos podiam viver em harmonia. Também desconhecia que a Argentina foi um dos países que acolheu mais judeus, convertendo-se numa terra de promissão para eles. 

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Vista geral de Le Chambon-sur-Lignon antes da II Guerra

 

São muitas histórias e factos cronológicos que este livro nos oferece, acima de tudo é uma óptima homenagem feita pelo autor aos milhares de pessoas que percorreram a Europa na esperança de uma mão amiga que os ajudasse a sobreviver. "Quero prestar a minha mais sentida homenagem a todos aqueles que ficaram pelo caminho, que nunca chegaram a ver os seus sonhos realizados, mas que tentaram." 

 

"A solidão era ainda mais profunda quando o coração encontrava o caminho das lembranças."

 

"Não tinham muito dinheiro, mas tinham-se uns aos outros. Não há maior riqueza do que o amor, mas, quando o carinho se desvanece pela terrível força do destino, a miséria do desamor converte as pessoas em sombras de si próprias."

 

"O pior amigo da verdade é o silêncio, a pior mentira do mundo é que as pessoas comuns não podem fazer nada contra a tirania."

 

"Talvez este mundo esteja cada vez mais louco, mas encontrarão sempre boas pessoas nele. Há mais corações generosos por aí do que julgamos."

 

"Essa ideia de que é preciso dividir e ser equitativo é muito bonita, mas o ser humano não se move por altruísmo, o que realmente o impulsiona é a ambição."

 

"A comida tinha conseguido saciar o seu apetite, mas a alma precisa de um alimento que só se fabrica nos braços de uma mãe."

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publicado às 18:00

Sinopse:

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A minha opinião:

Livro de leitura compulsiva, onde a ânsia de saber que final terá fez com que ficasse agarrada a cada página. Escrito em forma de ficção, mas com bastantes factores históricos a suportar esta estória.

 

Mais uma vez entramos dentro da fortaleza assassina nazi, Auschwitz, mais propriamente em Birkenau II, Desta vez deixei-me levar pela saga de uma família cigana, mais uma raça que foi fortemente aniquilada em proveito dos ideais de Hitler. Os tempos ruins já estava a decorrer e esta família tentava ao máximo passar despercebida, algo que se vai revelar desastroso aos olhos de quem tudo via na altura.

 

Helene Hanneman, alemã “pura”, enfermeira, mãe de 5 filhos e casada com o grande amor da sua vida. A vida desta mulher tinha tudo para ser perfeita, mas deste cedo que ela é hostilizada por ter escolhido para marido um cigano. Os soldados nazis chegam a sua casa, quando ela se preparava para ir trabalhar e levar os filhos à escola, no meio desta tarefa perfeitamente normal tudo se desmorona e quando Helene pensa que “só” o seu marido vai ser afectado com a detenção, logo surge mais um murro no estômago…

“- As crianças também são romani. A ordem também inclui a elas. Não se preocupe você pode ficar – Disse o sargento tentando explicar-me de novo a situação. Certamente o meu rosto refletia pela primeira vez o desespero que já sentia há algum tempo.

- A mãe é alemã - tentei argumentar.

- Receio que isso não importe neste momento. Falta uma criança, nos meus documentos consta que são cinco filhos e o pai - respondeu sargento muito sério.

Não reagi. Senti-me paralisada pelo temor, mas tentei tragar as lágrimas. Os meus filhos não deixaram de olhar para mim, devia ser forte.

- Preparo-os num instante. Iremos todos consigo. A pequena ainda está na cama - surpreendeu-me ouvir-me, como se realmente não fosse eu a falar, parecia que as palavras saíam de outros lábios.

- Você não vem, Frau Hanneman, só as pessoas de raça zíngara, os ciganos - disse o sargento.

- Herr polizei, eu irei para onde a minha família for. Agora permita-me que prepare as malas e que vista a pequena.”

 

A partir daqui tudo vai ser uma constante luta, desespero, dificuldades e alguma descrença, mas apesar de todos os contratempos, a união em proteger a sua família vai tentando levar a melhor. Helene vai acabar por ter um papel fundamental, naquela que seria uma tranquilidade camuflada, algo que vai dar algum conforto a mais de 50 crianças existentes naquele campo cigano em Birkenau (Auschwitz II), a criação de uma creche por ordens do doutor Mengele. É interessante ver como os ciganos se vão protegendo e a importância que dão á família.

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Estes prisioneiros também vão-se apercebendo das atrocidades do doutor Mengele, acho que foi isso que menos gostei no livro, a certa altura dou comigo a pensar neste homem como alguém bom, despromovido do todo mal que afectava os outros alemães no campo. Homem esse que foi apelidado de “anjo da morte”.

 

Não sou mãe, (nem tenho pretensão de ser) mas sou filha e este livro fez-me pensar muito na minha mãe, em todos os sacrifícios que ela faria para proteger e criar o mínimo bem-estar aos seus filhos, por isso não conseguir ficar indiferente a esta maravilhosa história de coragem, determinação e todo o amor maternal.

 

“Às vezes temos que perder tudo para conseguir obter o mais importante. Quando a vida nos despoja daquilo que julgávamos imprescindíveis e nos encontramos nus diante da realidade, o essencial que é sempre invisível aos olhos, ganha a sua verdadeira importância.”

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Mario Escobar, Licenciado em História e Diplomado em Estudos Avançados em História Moderna, escreveu inúmeros artigos e livros sobre a Inquisição, a Reforma Protestante e as seitas religiosas. É colaborador habitual da National Geographic História e História 16. Trabalha como director executivo de uma ONG e é director da revista Nueva Historia para el Debate. Interessado nos mistérios ocultos por detrás da história, da religião e da ciência, tem dedicado toda a sua vida a desvendá-los.

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publicado às 01:32


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