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"The Innocents" de Anne Fontaine

por Tânia Tanocas, em 03.03.17

Primeiro filme visto para o projecto #marçofeminino

Galardoado com o prémio do público da 17ª Festa do Cinema Francês (2016).

1 (8).jpgNOTA: Não foi à toa que ocultei algumas palavras da sinopse, porque acho que tem mais impacto o momento em que descobrimos o que se passa dentro do convento. Eu se não tivesse visto a sinopse teria sentido o desenrolar do filme de forma diferente, por isso se conseguirem não vejam nada acerca do filme, simplesmente assistem...

 

Opinião:

Este filme é baseado em factos reais, Mathilde Beaulieu, foi uma médica que trabalhou num posto francês da Cruz Vermelha na Polónia no final da Segunda Guerra Mundial, o seu diário de bordo, que deu origem ao argumento do filme, chegou às mãos da realizadora através de um sobrinho da médica.

Infelizmente, mesmo já no pós II GM, muitos foram aqueles, que de uma maneira ou de outra sucumbiram às fissuras deixadas pela guerra e esta é uma das tantas história vividas por inocentes e vulneráveis às mãos dos soldados russos.

 

“Um soldado que atravessou milhares de quilómetros entre fogo e sangue tem direito a divertir-se com uma mulher e a roubar umas ninharias” terá dito Estaline, quando fora alertado para o facto de os seus soldados estarem a abusar das mulheres por onde passavam.

 

Polónia, Inverno de 1945, logo após o fim da II GM. Uma jovem médica da Cruz Vermelha Francesa, Mathilde Beaulieu é levada por uma das noviças a um convento, onde uma jovem está a necessitar de ajuda médica, mas o acto da noviça não é bem visto pela madre superior, que não perde tempo em repreender a sua atitude. 
A partir daqui estaremos em constante estado de ansiedade, com o que será as escolhas da madre e a reacção das próprias freiras, um filme muito psicológico, onde a raiva, razão e a fé irão estar constantemente lado a lado, mas a maior parte do tempo em persistente braço de ferro. Em todo o filme, temos bem presente a guerra, morte, vida, religião e senso comum.

 

Quantas vezes nos perguntamos, se Deus existe, porque permite tamanha crueldade? Aqui ainda mais essa questão é motivo de análise, pois nada escapa às mãos de qualquer predador em relação à sua presa, nem mesmo as suas filhas mais devotas, aquelas que se agarram à fé na busca de uma solução ou resposta e não conseguem ver mais nada para além dessa devoção, quando a congregação está em risco, não é apenas na fé que se tem de arranjar soluções, mas também na realização de acções práticas para camuflar um desaire ainda maior.

É um filme angustiante, tanto para quem é religioso, como também para quem é ateu e não entende algumas posições da religião, mas acima de tudo é um óptimo sinal de esperança e dignidade no meio da monstruosidade humana.

 

Não sou mãe, mas acredito que este filme toque de maneira diferente aquelas mulheres que sentem ou já sentiram o apelo da maternidade, por isso este filme tem a sensibilidade que só uma mulher / mãe poderiam ter para o realizar.
Gostei muito e mais uma vez um filme Europeu a dar cartas no mundo do cinema, pena é que a máquina do Marketing não tenha chegado até ele.

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Anne-Fontaine

Anne Fontaine.jpg

Anne-Fontaine Sibertin-Blanc nasceu em 1959 no Luxemburgo, vive actualmente em França, passou parte da sua infância e adolescência em Lisboa, onde teve bastante contacto com a religião católica, apesar de não acreditar em Deus. Bailarina de profissão, o cinema entrou na sua vida nos anos 80 enquanto actriz, passando depois por ser realizadora e argumentista, o seu mais recente trabalho enquanto realizadora é Agnus Dei /As Inocentes, com o argumento, também ele no Femenino, de Sabrina B. Karine e Alice Vial.

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publicado às 23:42


2 comentários

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Sara a 04.03.2017

Isso era uma prática comum em qualquer exército - actualmente violações em massa acontecem diariamente em cenários de guerra como Congo ou Sudão, mulheres são consideradas despojo e a violação é considerada um acto de dominação, especialmente em território rival. Também era frequente as próprias enfermeiras serem abusadas por soldados da sua própria nacionalidade ou rivais.
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Tânia Tanocas a 08.03.2017

Pois , o problema é mesmo estas prática serem do conhecimento e infelizmente ainda nos dias de hoje elas se repetirem... :(
Por isso é que gosto muito mais de ver este tipo de filmes, que nos transmitem determinadas mensagens que muitos querem ocultar.
Beijokas

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